dizem que foi Natal

Porque ainda assim estivemos juntos, sem que ninguém se afastasse de nós. porque dei os mesmos abraços e vi os mesmos gestos de Deus. porque estávamos em família. porque o sinal de mais, em jeito de cruz, se fez presente. porque rezámos juntos para quem nos quer-bem. porque os presentes foram flores vermelhas, ou brancas ou verdes. porque pela primeira vez olhei para ele a chorar e porque as lágrimas foram de amor. porque uma menina linda nos levou alimento à nossa mesa. porque este Natal foi o maior de todos, porque a morte e o nascimento se juntaram numa beleza simples. porque de hoje em diante, estes dias não vão ser esquecidos.. de tão tristes se fizeram grandes.

há tradições e tradições


é um grande erro .... não querer ouvir o que nos dizem.
é um erro ainda maior .... ignorar o que nos pedem.
mas o erro maior de todos é esquecer quem temos ao nosso lado.
esta é a única tradição que vale a pena cumprir.

mais uma menina vestida de branco

rimos os três ou os cinco (a contar com os dois meninos do altar) porque, de mãos dadas, confirmámos a nossa amizade e o nosso amor. vivam as tulipas brancas, a menina que gosta delas e os meninos que nos fizeram sorrir de tanta alegria posta nas palavras.

contagem decrescente

porque naquele dia fomos 4 a construir a casa. nessa tarde a casa estava a cheirar a casa e duas meninas e uma porta aberta para dar vida. as cadeiras emprestadas, o candeeiro de balão da outra casa, os livros - muitos livros - arrumados milimetricamente na estante feia.
custa-me fechar caixotes com as coisas que fizeram sentido, custa-me que alguma coisa ganhe pó numa garagem, custa-me dar o que me foi dado, só porque a vida vai ser outra. custa-me perder o cheiro da casa n.º1, nem que esse cheiro seja o de dois gatos tipicamente mimados. custa-me não ter o sol das escadas para comer o macdonalds aos domingos, custa-me não ter a janela para ver o bairro iluminado. custa-me perder o cheiro a scones ou do bolo de chocolate. custa-me não ter o terraço para as festas no verão, lá para junho, quando a vida faz sentido. custa-me fechar caixotes com as coisas que fizeram sentido.

duas árvores

são imensamente grandes. as duas são verdes e não são invertidas. as duas cresceram no mesmo dia 1 de dezembro. as dua têm luzes e bolas de uma só cor: douradas e vermelhas. as duas seguem o mesmo ritual: dos olhos esbogalhados às lembranças dos últimos anos. as duas querem ficar em casa mais do que uma época do ano... em janeiro ainda querem ser natal.