casa

a árvore é grande e agora tem flores roxas. a escada parece que não quer ficar branca mas convida a ficar. a porta e o correio continuam verdes. a janela que dá para o largo é branca e tem dois pares de olhos a saltaem ao ritmo dos pássaros. o frigorífico que tem sempre mais do que 6 doces diferentes. as paredes que só recebem quadros caseiros e que foram deixando ao critério dos dias os tons da moda. o mapa do escritório que está sempre a cair e os livros espalhados no chão que servem de escadote aos gatos pretos. o tanto frio e o tanto calor que têm as estações trocadas.
2 anos passados naquela casa e ainda hoje lembro os motivos que me levaram até ela.
uma tarde em que abri os classificados na net, uma visita com a clarisca, outra com a mãe e outra com a certeza que era naquela pequenez que me iria sentir bem. os poucos meninos que carregaram os móveis e a menina que ofereceu o candeeiro de balão. a menina que ficou por lá uns meses e que de lá saiu de branco num dia em que chovia muito.
as jantares de gala, os lanches com scones, os jantares de família, os serões de tricot ou de esmirna, as madrugadas a ler poesia, os fins de tarde a beber cerveja, os aniversários, as visitas rápidas, as visitas de meses, as visitas que estão para durar.
hoje a mesa da sala está cheia de fios, guizos, feltros, cola, tesoura e fotografias. no escritório as caixas dos papeis estão abertas.
fez sentido tudo isto. faz sentido ter-vos por perto. faz sentido abrir as portas e ficar horas no sofá verde a dizer bem da vida.
faz sentido a distância da outra casa que há dois anos tinha muito pouco de casa.