carta

alguém me avisou que ando no fio da navalha.
alguém me avisou que o meu destino foi inventado por um gira-discos estragado.
alguém me avisou que a minha cartilha do planeamento estratégico está mal orientada.
alguém me avisou que não posso pintar o coração com as cores que eu quiser.
alguém me avisou que não posso pisar os vidros que estão caídos no chão.
alguém me avisou que o resultado das raízes quadradras e das somas subtraídas é sempre nulo.
alguém me avisou que a minha vida é um círculo vicioso ao meu gesto mimado.

fico triste quando esse alguém não percebe que a vida é mesmo assim. damos voltas e mais voltas e voltamos ao princípio que já conhecíamos. o resultado nunca é nulo mas uma soma de coisas muito boas e outras que não conseguimos esquecer. perdoar não é esquecer mas é tentar encontrar a paz que anda por aí escondida.
quem dera a esse alguém ter um fio para andar, um disco para ouvir, um plano para traçar, uma tinta para pintar, um vidro para partir, uma soma para calcular e um círculo para percorrer.
não quero seguir o caminho que esse alguém segue, só porque é o mais correcto. quero seguir o que me apetecer no momento. se voltar ao princípio não importa... se voltar a um outro princípio ainda melhor.
quem sabe?
hoje apetece-me cantar os toranja.