casa

a árvore é grande e agora tem flores roxas. a escada parece que não quer ficar branca mas convida a ficar. a porta e o correio continuam verdes. a janela que dá para o largo é branca e tem dois pares de olhos a saltaem ao ritmo dos pássaros. o frigorífico que tem sempre mais do que 6 doces diferentes. as paredes que só recebem quadros caseiros e que foram deixando ao critério dos dias os tons da moda. o mapa do escritório que está sempre a cair e os livros espalhados no chão que servem de escadote aos gatos pretos. o tanto frio e o tanto calor que têm as estações trocadas.
2 anos passados naquela casa e ainda hoje lembro os motivos que me levaram até ela.
uma tarde em que abri os classificados na net, uma visita com a clarisca, outra com a mãe e outra com a certeza que era naquela pequenez que me iria sentir bem. os poucos meninos que carregaram os móveis e a menina que ofereceu o candeeiro de balão. a menina que ficou por lá uns meses e que de lá saiu de branco num dia em que chovia muito.
as jantares de gala, os lanches com scones, os jantares de família, os serões de tricot ou de esmirna, as madrugadas a ler poesia, os fins de tarde a beber cerveja, os aniversários, as visitas rápidas, as visitas de meses, as visitas que estão para durar.
hoje a mesa da sala está cheia de fios, guizos, feltros, cola, tesoura e fotografias. no escritório as caixas dos papeis estão abertas.
fez sentido tudo isto. faz sentido ter-vos por perto. faz sentido abrir as portas e ficar horas no sofá verde a dizer bem da vida.
faz sentido a distância da outra casa que há dois anos tinha muito pouco de casa.

contrariando a música: a felicidade não tem fim

quero que à minha volta estejam todos felizes. não sendo grande o pedido é grande a vontade.

o valor das surpresas



Quando a luz dos olhos meus
e a luz dos olhos teus
resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é, meu Deus
que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
resiste aos olhos meus só prá me provocar
Meu amor juro por Deus
me sinto incendiar
Meu amor juro por D eus
que a luz dos olhos meus já não pode esperar
quero a luz dos olhos meus na luz do olhos teus
sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus eu acho meu amor
e só se pode achar que a luz dos olhos meus
precisa se casar.

Tom Jobim / Vinícius de Moraes

não é tristeza

nunca me deu tanto gozo estar em silêncio.

ainda não somos mas seremos ainda mais

nem sempre podemos dizer aqui tudo o que nos apetece, o que escrevemos à primeira, as ideias que passam da cabeça para os dedos sem darmos conta. nem sempre fica bem insistir nas infelicidades da vida, mas também, por vezes, não podemos espalhar a notícia de que estamos tremendamente assustados com a felicidade.
coisas que surgem com a calma devida, coisas que têm anos de história, coisas que estão na memória, coisas que ganham vida, coisas que, ao final do dia, se abraçam e entrelaçam de tanta saudade.
às vezes fica-nos mal chorar no trabalho porque estamos felizes, quando o trabalho é infeliz e quando alguém ao nosso lado não está bem de saúde.
fica-nos tão mal perder 20 minutos à procura de uma música para enviar por e-mail, porque o sorriso é matreiro e o coração já nos atraiçoou.
fica-nos tão mal amar demais quando à nossa volta há tanta falta de amor.


porque ficamos tão bem quando sabemos administrar sabiamente a felicidade, com a certeza que um dia já não nos ficará mal dar um beijo, dar as mãos, dar testemunho, dar gargalhadas, dar a vida, dar o que ainda não temos.
porque um dia cantaremos e dançaremos no tal concerto, com a mesma ingenuidade de quem nunca viveu outro amor.
porque um dia as partidas e as chegadas serão apenas saudades e nada mais do que a confirmação do que já dissemos bem antes de partir.

Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim
Leva o teu olhar, que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar.

Ó pedaço de mim, ó metade exilada de mim
Leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais.

Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim
Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

Ó pedaço de mim, ó metade amputada de mim
Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada no membro que já perdi.

Ó pedaço de mim, ó metade adorada de mim
Lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.

Chico Buarque



daqui a uns anos

Cinema Paraíso

se não estivesses por perto teria medo do escuro, da noite, dos barulhos lá fora, do vento, da chuva a cair, do frio e do sono que tardava a chegar.
não estranhes que um dia cresças, ainda mais, e olhes para os nossos retratos com olhos esbugalhados.
o sono chega sempre a horas.

para a menina que gosta dos anjos

MF, Sé Velha, Coimbra, 2006

ouvi dizer que os anjos têm cara e que gostam de sorrir.
ouvi dizer que os meus anjos se reconhecem quando abrem a janela de madeira pintada de branco e quando abrem as asas e libertam toda a força do corpo... se assim não fosse não os encontraria quase no limite do meu céu transparente.

mar da escócia


...And it was just another night
With a sunset and a moonrise
Not so far behind to give us just enough light
To lay down underneath the stars
Listen to all translations
Of the stories across the sky
We drew our own constellations...


Jack Johnson Constelations In Between Dreams

Está cada vez mais perto a nossa ida a Perth. nós os 4 ou nós os 6, tanto faz!
ontem sorri contigo e nos entretantos sorri muito para ti.

passaram por mim todas as fotografias que tiramos juntas. as nossas viagens no teu carro azul clarinho e o iogurte que se espalhou nos bancos. viagens até ao final do dia. sempre o mesmo casaco cinzento vestido e os cabelos aos caracóis. sempre as mesmas músicas e conversas baralhadas que se desfizeram por agora.
a tua casa linda, ao teu jeito de ser e de querer estar. no teu quarto as tuas caixas brancas que todos os dias têm fitas e cores para te animar o dia.
um beijo da mar de cá com a certeza que dançamos juntas pela noite dentro.



família, amigos e chocolates


combina com o doce de morango que tenho para vos dar.
combina com o sorriso que me conseguiste arrancar.
combina com a cor dos smarties da tua princesa.

com a certeza que

vou passar o dia todo a lembrar-me dos teus olhos a sorrir.
- gostas de mim?
- não! gosto muito de nós!

ludovico einaudi

onde me sinto.
le onde

a esta amizade que se veste de branco


as pessoas são especiais porque nos tornam únicas.
as relações são únicas porque são inteiramente especais.
um molho de frésias para ti, seja qual for o dia do ano.

volta ao mundo em 40 dias

foi pedido à plateia de gente crescida e de cabelos quase brancos que durante os próximso 40 dias olhasse por quem está perto e só e por quem está longe e não menos só.
lá escondi os meus olhos, com o meu cabelo que ainda não é branco. lá fechei os ouvidos a um nome de uma terra que veio do Altar.
o meu mundo tem muito menos que 40km e suponho que em 40 dias vou continuar pequenina perante o muito que devia ter feito. sem promessas mas com vontade de fazer o possível.
obrigada aos meninos que ontem estavam no mesmo banco da missa de cinzas.

29 de fevereiro e os dias


dias que nunca passam pelas 23.30h.
dias que não aparecem no calendário dos outros meninos a não ser no nosso.
dias que serão maiores do que o dia de hoje.
dias em a distância será ultrapassada num passo de dança.
dias que vão andar ao ritmo do nosso corpo.
dias que, mesmo juntos das noites, não serão suficientes para te dizer que aqui, no nosso cantinho, o céu está inteiramente vermelho.