dormir o "sono dos justos"

"Boa noite e até amanhã/ Sonhai, sonhai que o sonho faz bem/ amanhã o dia é melhor"
Ontem de noite estive à escuta.
Deitei-me muito tarde e tive uma insónia indesejada. Enquanto tentava ficar com sono recebi uma mensagem por volta das 3 horas da manhã que dizia: "gosto de ti". Ai sim, sorri, virei a almofada, fechei os olhos e dormi até de manhã.
Obrigada por tantas mensagens de Primavera mas não te esqueças que já me vou habituando às coisas boas da vida. Hoje estou à escuta outra vez!

amanhã é dia da criança

Acho que durante 26 anos nem sempre gostei de ti, nem sempre gostei de ouvir os teus berros logo pela manhã, os teus insultos quando não arrumava o quarto, as tuas conversas fechadas e as tuas ideias presas a um passado triste.
Mas concluo que deixei de deixar de gostar de ti. simplesmente vou descobrindo aos poucos que a distância de um ano me trouxe ao coração uma pessoa muito muito linda, que gosta de passear na relva molhada como eu, que gosta de um bom almoço às quintas-feiras, que gosta de beber chá por uma caneca colorida, que gosta de se vestir cor-de-rosa, que gosta de se sentir segura e guiada até um porto seguro, que gosta de amar só as pessoas que merecem o teu amor, que gosta de surpresas e de flores à porta de casa, que gosta de ver fotografias e rir às gargalhadas dos dias e dos momentos que foram vividos.

Amanhã é dia da criança e como sempre lembro-me que me davas um presente logo quando acordava. Não te esqueças de me dar o meu: um grande beijo e um grande sorriso de mãe. isso só já é a alegria de uma criança.

passagem das horas

Daqui a uma semana, talvez duas, as 300 páginas que escrevi ao longo de quatro anos vão ser entregues a alguém que as queira ler. falta pouco e, por incrível que pareça, gostava que demorasse só mais um tempinho para poder continuar a estudar com um sorriso grande nos lábios.
pelo menos sei que durante as horas que faltam vou andar em estado de graça. e depois?

stay or leave

Este fim-de-semana foi tempo de relembrar velhos clássicos e de pensar numa viagem que fiz até Madrid ao som de Dave Matthews Band. O resultado foi este:

Maybe different but remember
Winters warm there you and I
Kissing whiskey by the fire
With the snow outside
And the summer comes
The river swims at midnight shiver cold
Touch the bottom you and I
With muddy toes

Stay or leave
I want you not to go but you should
It was good as good goes
Stay or leave
I want you not to go but you did

Wake up naked drinking coffee
Making plans to change the world
While the world is changing us
It was good good love
You used to laugh under the covers
Maybe not so often now
The way I used to laugh with you
Was loud and hard

Stay or leave
I want you not to go but you should
It was good as good goes
Stay or leave
I want you not to go but you did

So what to do
With the rest of the day's afternoon hey
Isn't it strange how we change
Everything we did
Did I do all that I should

That I coulda done

Remember we used to dance
And everyone wanted to be
You and me I want to be too
What day is this
Besides the day you left me
What day is this
Besides the day you went
So what to do
With the rest of the day's afternoon hey
Well isn't it strange how we change
Everything we did
Did I do all that I could

Remember we used to dance
And everyone wanted to be
You and me, I want to be too
What day is this
Besides the day you went babe
What day is this

"está de chuva"

para logo à noite a receita é simples:
- uma casinha linda como o candeeiro de balão aceso;
- uma mantinha verde e um sofá verde;
- muito boa companhia;
- um chá de frutos silvestres;
- uns biscoitos caseiros ou um bolo de chocolate caseiro;
- uma música escolhida a dedo;
- muita conversa até de manhã.

na parde do meu quarto

As fotografias que tenho na parede do meu quarto andam comigo de casa em casa. Já as tinha na parede do meu quarto antigo (em casa dos meus pais) e agora estão por lá (na minha casa n.º1). Continuam a fazer o mesmo sentido quando as coloquei pela primeira vez na primeira parede. Gosto das fotografias que se põem na parede e que nunca se tiram porque nunca perdem a validade.
Para além dos amigos tenho um poema já muito velhinho que me enviaram por correio:
"trago dentro do meu coração
como um cofre que não se pode fechar de cheio
todos os lugares onde estive
todos os portos a que cheguei
todas as paisagens que via tarvés de janelas ou vigias
ou de tombadilhos, sonhando
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero"
Álvaro de Campos; Passagem das Horas

Junto a este poema tenho duas paisagens lindas: a primeira é Lisboa com o Tejo ao fundo, a segunda é de Castro Verde sem abetardas. Não sei se aquelas fotografias indicam que o meu mundo continua a ser muito pequenino, não sei se aquelas fotografias são as únicas que tenho no meu cofre; não sei porque escolhi uma cidade e um campo; certo é que não me importaria que aqueles lugares fossem a minha morada durante uns tempos.
Já é tempo de mudar de paisagens e já é tempo de mudar de parede de quarto, mas ainda não sei se é este ano que me apetece conhecer outras casas.

o que as tias nos dizem

"Quando conheço uma pessoa olho logo para os seus sapatos. Os sapatos dizem muito de uma pessoa"
Quando me disseram esta frase eu tinha calçados uns sapatos castanhos, que não custaram mais que 20 euros e que já estavam completamente gastos.
O que poderiam significar aqueles sapatos naquele dia?
Ainda não sei se a interpretação que dei na altura é a mais correcta. Naquele dia preferi estar cómoda a elegante, preferi não dar nas vistas com uns sapatos originais, preferi não usar graxa e deixar os sapatos com o ar de velhinhos.
E agora? Alguém que me explique que esta lengalenga das tias é mentira pois os sapatos que trago hoje são muito parecidos com os velhinhos sapatos castanhos e para além destas interpretações imediatas surgiram outras que me podem assustar muito mais num dia como o de hoje.

despedidas e partidas

Ontem vi-te pela primeira vez feliz.
Tudo o que tinhas como certo há 6 meses já não existe na tua vida. No entanto revelaste-me que vais partir para um lugar ainda incerto e com um tempo nada certo.
Não consigo ficar feliz com as partidas, muito menos com a de alguém que me ensinou a gostar de ler poesia. Quem é que agora me vai ler contos infantis, quem é que me vai mandar mensagens com poemas, quem é que me vai obrigar a utilizar o dicionário de sinónimos, quem é que me vai ensinar outras tantas coisas sobre as cidades.
Ainda por cima perguntas “escreves-me?”. Eu acho que te escrevo mas talvez gostasse que no envelope estivessem escritas as palavras mágicas: P.M.P.
Vou tentar digerir nos próximos 4 meses a tua partida e vou tentar ler ainda o que falta para ler. Lembras-te: “Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do marSophia de Mello Breyner Andresen

daqui a um mês falaremos??

Durante 3 dias cada vez que que ele passava por mim dizia-me: "nunca é tarde" ou "daqui a um mês falamos". Disse-me estas frases mais de 4 vezes ao dia.
Ao terceiro dia, enquanto celebrava a missa, enquanto olhava para mim de olhos vidrados, enquanto tinha 200 pessoas à nossa volta, disse em voz alta: "Margarida Franca nunca é tarde e daqui a um mês falaremos".
Com tantas testemunhas a única coisa que eu posso prometer é que metade das suas palavras não podem ficar no ar.
Nunca é tarde para pensar em mim.
Nunca é tarde para mudar de emprego.
Nunca é tarde para acabar a tese utópica.
Nunca é tarde para começar outra tese mais utópica ainda.
Nunca é tarde para deixar de esticar o cabelo e usar caracóis.
Nunca é tarde para ir visitar uma amiga (linda, linda e linda) a Glasgow.
Nunca é tarde para ver um grande amigo ser ordenado padre e chorar por isso.
Nunca é tarde para ser madrinha de um tesouro.
Nunca é tarde para fazer um campo de férias.
Nunca é tarde para usar mais vezes calças de ganga.
Nunca é tarde para deixar de tremer das mãos.
Nunca é tarde para usar aparelho nos dentes.
Nunca é tarde para voltar a ser bailarina.
(...)
No entanto, apesar destes "nunca é tarde" não era disto que o meu amigo falava. eu também acredito, tal como ele, que aos 26 anos não é tarde para que os sonhos de Deus se realizem na terra dos homens. e daqui a um mês falaremos.

"nada teu exagera ou exclui"

Antes de partir recebi uma mensagem como esta: "volta. quero-te por inteiro". Julgo que a mensagem não era para mim mas acabei por estar 3 dias inteirinhos (e julgo que continuo) a pensar muito nesta mensagem.
Assusta-me alguém querer esta margarida por inteiro. Como é que alguém me quer por inteiro se eu, muitas vezes, não me sinto inteira e só dou por metade.
Sobre isto chego a duas conclusões:
1- quero muitas coisas por inteiro, só aceito pessoas por inteiro e quero tudo ao mesmo tempo. sou trapalhona nas minhas relações porque não quero deixar ninguém pelo caminho e porque não quero que ninguém esteja ao meu lado por metade. sobreponho horários, tempos e espaços só para que nada dos outros se perca em mim. exijo que as pessoas estejam comigo cheias, intensamente e de pleno coração. Digo aos berros que só assim é que tem sentido! (egoísta?)
2- quero receber por inteiro mas sou sempre a metade do que as pessoas poderiam receber: meia amiga, meia irmã, meia filha, meia cristã, meia e meia e meia... cada vez mais sinto que fujo de mim e fujo de me entregar. são poucos os que conhecem dos pés à cabeça o que sou por inteiro.
resta-me o consolo de ter junto de mim amigos que vão gostando desta metade e que me avisam quando não estou por inteiro.

as fotografias estão quase a chegar

A verdadeira essência deste blog deveria ser querer bem a Coimbra... mas as pessoas, de facto, estão em primeiro lugar.
De qualquer forma, comunico que nos últimos dias dois fotografos (um português e outro brasileiro) alinharam comigo na loucura de andar por Esta Coimbra e fotografar os seus Não-Lugares. Por isto mesmo ando meia absorvida a descobrir não-lugares e a tentar encontrar cimêncios escondidos nos lugares de Coimbra.
Enquanto não surgem as fotografias e enquanto eu não avanço muito mais nestes nãos, o melhor é mesmo lembrar o Bairro do Ingote, a Estação de Coimbra B, o depósito dos autocarros do SMTUC, a sala de espera da rede de autocarros expresso, o Retail Park de Taveiro..... e por aí fora.

ps.: quando é que eu me preocupo mais com o "sim" (lugares) do que com o "não" (não-lugares)? Será que sou uma pessoa negativa por natureza ou utópica por defeito?

FRANCa mais um sISCO

Vai fazer amanhã um ano que reencontrei aqueles olhos pretos, pequenos e vazios… e já agora… loucos.
De facto, esses olhos não me eram estranhos. Enquanto fui professora aqueles olhos estiveram muitas vezes na última fila da sala de aula a olhar para mim e a classificar o meu jeito de ensinar. Nesse ano senti alguma raiva desses olhos. Eram arrogantes, feios e, sobretudo, transmitiam muita distância.
Três anos mais tarde esses olhos foram acompanhar-me numa peregrinação a Fátima. Durante três dias fui cativada por uns olhos pretos, pequenos e vazios….. e já agora loucos.
Durante quase um ano (não tivesse esta loucura sido interrompida por um tal de Peter Pan) estive cativa. Esses olhos fizeram-me acreditar que Rachmaninov compôs o Adagio Sostenuto (Piano Concerto No. 2 in C minor; OP 18) só para mim, que Ruy Belo escreveu poemas só para nós, que a Serra de Montemurro nunca tinha sido visitada senão por nós, que éramos os únicos moradores da Aldeia de Covas, que a minha casa era a nossa cidade.
Durante quase um ano foi assim. Acho mesmo que cheguei a mentir (e muito) por aqueles olhos. Acho que cheguei a trair (algumas horas) por aqueles olhos.
Amanhã vou partir com aqueles olhos para o mesmo caminho para mais três dias. Mas, por estranho que pareça, já não estou cativa a estes olhos. Mesmo assim estou estranhamente ansiosa por voltar a saborear o que deixei para trás.
Logo à noite vou adormecer ao som da nossa música, pode ser que este estado de alma passe e não me assuste mais.

Hoje o céu está mais azul eu sinto
Fecho os olhos e mesmo assim eu sinto
O meu corpo estremecer
Não consigo adormecer.
Nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor.
Hoje o céu está mais azul eu sinto
Olho à volta mesmo assim eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar
Nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor
Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia
Não sei como-lhe explicar
Mas é mesmo assim o amor.
Rosa, Rodrigo Leão Cinema, 2004

usurpadoras

Para quem elogia o meu mau feitio, bem se lembra que quem se mete comigo mete-se em sarilhos... que o diga a usurpadora Vera que ficou a ser mais conhecida entre 400 pessoas num encontro do Camtil.
Pois... hoje, como já melhorei o meu mau feitio estou todos os dias com a minha amiga vera. no desodorizante, nos pensos higiénicos e nos iogurtes a minha amiga vera nunca me abandona. de declaradamente usurpadora a minha vera passou agora a fazer parte do meu dia a dia...
Mas como se continuam a meter comigo, prometo que daqui a umas semanas vou começar a comer bolachas de araruta, sugos de fruta e outras coisas que tais. depois comento qual é a sensação de ultrapassar este meu mau feitio e passar a conviver com as usurpadoras.
mas hoje acordei a sorrir

para o Vasco

"As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista..." Pe Vasco Pinto de Magalhães, 7 Junho de 2003
Não é certamente a frase mais bonita do Pe Vasco, mas foi a que ele escolheu para o meu dia de aniversário no livro "Não há soluções, há caminhos".

Habituada a receber dele o "tanto", hoje sou eu quem lhe tem de dar o "pouco". Pouco... porque não tenho jeito para escrever e para chegar até ele através das palavras, como tão sabiamente ele tem feito comigo nos últimos anos.

Sendo assim vou cantar todo o dia o cântico "eu quero amar". Que me desculpem as 300 pessoas com quem me vou cruzar hoje no emprego mas estou a rezar pelo meu Vasco.

para ele um beijinho (sem máscara)

pudim flan instantâneo

Das poucas vezes que comprei um pudim flan instantâneo foi para fazer num campo de férias. Era uma sobremesa rápida e fácil de fazer... bastava juntar água ou leite!

Mas no último mês conheci um rapaz que também adorava pudim flan instantâneo. E eu fui levada a gostar daquele sabor e a gostar do efeito do "instantaneo".

Apaguei quase 100 fotografias digitais que tinha numa pasta do meu computador portátil, mandei os e-mails para o chamado "lixo" e às mensagens do telemóvel fiz o mesmo. Tudo com muita rapidez e facilidade. Já está!

Hoje já não há restos do pudim flan na panela que esteve em lume brando e nem deu para tirar com o dedo os vestígios colados ao inox. Mas, na sobremesa a seguir o melhor é optar por uma mousse caseira do que experimentar as instantâneas.

Devia estar com um ataque de literacia aguda... na embalagem do pudim flan dizia "instantâneo"... agora já sei o resultado.

não-lugares

"se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não possa definir-se nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico, definirá não-lugar. A hipótese aqui definida é a que a sobremodernidade produz não-lugares, ou seja, espaços que em si mesmos não constituem lugares antropológicos e que, ao contrário da modernidade baudelairiana, não integram lugares antigos: identitários, classificados e promovidos a "lugares de memória" estes ocupam naquela um lugar circunscrito e específico" Marc Augé:1994:84
A definição não é francamente boa mas é a possível. No nosso dia a dia, nesta pequena cidade, consumimos um conjunto incalculável de não-lugares e, por vezes, em curtos espaços e tempos. Os não-lugares são sítios de ninguém, onde andam pessoas transparentes, sem identidade social e espessura relacional.
Sou apenas um corpo presente quando vou conduzir o meu saxo pela circular extrena, estaciono-o no parque subterrâneo, e vou passear para o Dolce Vita. Estou apenas de passagem. Sou uma utente que só me conhecem o rosto e a identidade quando tenho de pagar alguma coisa com o meu cartão de crédito... até lá sou uma cliente e não a mar, a franca, a menina linda, a quero-te bem.... enfim... depois continuo esta era dos não-lugares, porque definitivamente isto ainda me baralha!

chocolates, flores e beijos no nariz

esta é a combinação perfeita para se receber num dia vivido até à exaustão. No dia em que te ofereceram um Fim e no dia em que te apercebes que o início só será daqui a uns longos meses recebo chocolates, amores-perfeitos e muitos beijinhos no nariz.talvez tenha sido um recado de Deus.obrigada a quem de direito e adeus a quem nem direito teve a provar o gosto do cacau dos beijos no nariz.à Clara e à Laura

Esta Coimbra...

"cada um vê com seus olhos, cada qual sente conforme a sua vida psíquica, cada homem cria as suas paisagens interiores - e eu, nesta minha condição humana, também trago comigo uma visão de Coimbra, imagem que bem difere daquela outra cantada por lânguidos trovadores, mas que me parece ser a de Coimbra que importa amar, seja conhecer" A.F.Martins;1983:35
Não conheci o professor Fred Martins mas ouvi muitas vezes dizer, lá pelos corredores da minha faculdade, que foi um geógrafo amante de Coimbra.
Sinto-me em casa quando leio o que ele escreveu, ou melhor, sinto-me em casa na sua Coimbra.
Prometo cuidar dela com a mesma paixão e mostrar que, nas minhas paisagens interiores, há lugares e não-lugares cheios de vidas que ñão podem ser ignoradas.
É a "Esta Coimbra" que eu quero bem... aquela que é a minha casa e que é palco dos meus sonhos e fantasias.